A propósito da Arquitectura de Fernando Távora

«A gestação de uma obra de Autor está para além da tipologia. Nem sempre o Autor é um arquitecto (falando dos contemporâneos, pois noutros tempos não existia tão corporativista condição – nem hoje, se atendermos ao que acontece).

O autor constrói movido pela emoção e movido pela necessidade, seja erudito ou seja popular (se alguém assim entender) o que faz e como o faz.

Constrói igrejas, palácios, casas de favela. A emoção não compreende prioridades, ou hierarquias. Quanto à necessidade: essa pode ser larga, universal; ou pode nascer da resistência, do desejo de (sobre)viver – o mais universal dos desejos.

A arquitectura que não corrói nasce da capacidade de emoção. E essa, sem dúvida, é uma capacidade universal.»

Álvaro Siza. Porto, 25 de Dezembro (Dia de Natal) de 1992

In Luiz Trigueiros (1993) Fernando Távora, Editorial Blau.

 

briteiros

Imagem: Casa de Briteiros © Patrícia Miguel. Viagem Revisitar Fernando Távora, 2016.

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Vizinhos: Álvaro Siza na Bienal de Veneza (2016)

“Vizinhos” série de quatro documentários que acompanham Álvaro Siza à Bouça, a Haia, a Berlim e a Veneza onde desenvolveu projectos de habitação social. Os documentários estão em exibição no Pavilhão de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza até Novembro de 2016.

1# Vizinhos: A revolução e as casas de Siza na Bouça (clicar na imagem)

siza filme 1

Exibição: SIC

28.05.2016

Duração: 38’13

 

2# Vizinhos: A Haia de Siza Multicultural (clicar na imagem)

siza filme 2

Exibição: SIC

29.05.2016

Duração: 37’26

 

3# Vizinhos: Bonjour Tristesse, Berlim (clicar na imagem)

siza filme 4

Exibição: SIC

04.06.2016

Duração: 37’47

 

4# Vizinhos: Álvaro Siza na Giudecca, Veneza (clicar na imagem)

siza filme 3

Exibição: SIC

05.06.2016

Duração: 37’31

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Lúcio Costa e os seus dois estilos: colonial e modernista.

«Demolição de prédios históricos (brasileiros) foi motivada por arquitectos modernistas.
Lúcio Costa, o urbanista que projetou Brasília, defendia que só dois estilos mereciam preservação no Brasil. Como resultado, perdemos tesouros no Rio, em São Paulo e em outras capitais.»
Breve ensaio sobre a controvérsia da preferência de Lúcio Costa pela arquitectura colonial ou moderna em detrimento de outros “estilos”, como o ecletismo dos séculos XIX e XX.
Neste ponto (demolidor) Lúcio Costa distancia-se de Fernando Távora, e da sua modernidade compatível com o respeito por outros tempos e por outras arquitecturas.
Ver artigo completo na Revista Época aqui
872_palacio_monroe_rj_riodejaneiro_arquitetura
 Imagem: Palácio Monroe, no Rio de Janeiro. Demolido em 1976.

Vizinhos: Álvaro Siza na Bienal de Veneza (2016)

“Vizinhos” série de quatro documentários que acompanham Álvaro Siza à Bouça, a Haia, a Berlim e a Veneza onde desenvolveu projectos de habitação social. Os documentários estão em exibição no Pavilhão de Portugal na Bienal de Arquitectura de Veneza até Novembro de 2016.

1# Vizinhos: A revolução e as casas de Siza na Bouça (clicar na imagem)

siza filme 1

Exibição: SIC

28.05.2016

Duração: 38’13

 

2# Vizinhos: A Haia de Siza Multicultural (clicar na imagem)

siza filme 2

Exibição: SIC

29.05.2016

Duração: 37’26

 

3# Vizinhos: Bonjour Tristesse, Berlim (clicar na imagem)

siza filme 4

Exibição: SIC

04.06.2016

Duração: 37’47

 

4# Vizinhos: Álvaro Siza na Giudecca, Veneza (clicar na imagem)

siza filme 3

Exibição: SIC

05.06.2016

Duração: 37’31

 

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Nuno Teotónio Pereira (1922-2016)

Muito haveria para falar sobre a tão rica obra, estudo e vida de Nuno Teotónio Pereira. Revisitando Fernando Távora, revisitamo-lo também e o momento em que ambos se conheceram: logo após a publicação de “O Problema da Casa Portuguesa”, em 1947. Ao ler o texto, Nuno Teotónio Pereira parte de imediato para o Porto para conhecer o seu autor, o igualmente jovem Fernando Távora, então com apenas 24 anos. Dois jovens, com pouco mais de 20 anos, reflectem sobre a existência (ou não) de uma “Casa Portuguesa”…

Os seus percursos irão cruzar-se novamente um pouco mais tarde, em 1955, quando por decreto se determina a realização de um “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal” numa “tarefa de cuidadosa investigação das disposições construtivas patentes nos documentos arquitectónicos de todas as épocas existentes nas diversas regiões do nosso território metropolitano, a realizar pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos, sob a orientação do Ministério das Obras Públicas e com a cooperação das instituições nacionais habilitadas a prestar contribuição útil para o melhor resultado do empreendimento.” D.L. n.º 40349 de 19 de Outubro de 1955

Neste “empreendimento”, com o apoio e subsídio do Governo, divide-se o país por províncias e em equipas de trabalho*, havendo Fernando Távora de participar na equipa responsável pelo Minho e Nuno Teotónio Pereira na equipa dedicada à Estremadura. Ambos com pouco mais de trinta anos de idade, irão calcorrear toda a província que lhes competia num trabalho de campo exaustivo de recolha de milhares de dados, representados num também extenso número de textos, fotografias e desenhos de catalogação desta arquitectura vernacular, por vezes tão longe e tão inacessível. Os resultados, seriam tornados públicos seis anos mais tarde, em 1961, com o título “Arquitectura Popular em Portugal”, editado pelo Sindicato Nacional dos Arquitectos e mais tarde reeditado por diversas vezes.

arquitectura popular 2

Página do “Inquérito à Arquitectura Popular em Portugal” in João Leal, “Arquitectos, engenheiro, antropólogos: estudos sobre arquitectura popular no século XX português”. Conferência José Marques da Silva 2008. Fundação Marques da Silva. P.45

Das memórias de Nuno Teotónio Pereira sobre este trabalho e sobre este inquérito, transcreve-se um excerto da entrevista de Carlos Guimarães, João Crisóstomo e Luís Loureiro, publicada originalmente em NU nº 27 e disponibilizada no Portal Vitruvius em Maio de 2008. 

«Eu gosto muito do território – se não tivesse sido arquitecto tinha ido para geografia, conheço Portugal de lés a lés, e também participei naquele inquérito à arquitectura popular portuguesa que reforçou essa componente. E sempre apreciei muito a arquitectura vernácula, as suas expressões, as paisagens, o carácter de cada vila, de cada localidade. Isso também tem reflexo nas nossas obras.
Nós participamos naquele momento crítico da arquitectura moderna em que esta sofreu de dogmas. Do outro lado da avenida de Roma há uns prédios compridos paralelos uns aos outros, assentes em cima de pilares com empenas cegas. Havia esses dogmas da arquitectura moderna, os pilotis, coberturas horizontais e nós sempre fomos fazendo telhados, de uma maneira ou de outra. E quisemos participar nesse movimento crítico de revisão da arquitectura moderna contra os dogmas para se adaptar melhor às condições locais, a cada ambiente.»

Tinha a ver com tornar o espaço identificável por toda a gente…

«Sim, exactamente.»

No fundo democratizar a arquitectura…

«Organizá-la, regionalizá-la. E aqui o Távora teve um papel muito importante.»

É engraçada aquela história de ter ido ao Porto de propósito conhecer o Fernando Távora depois de ele ter escrito o texto sobre a casa portuguesa…

«Sim, eu fui lá. Esse artigo é um artigo histórico e o publicamo em livrinho. Acho que fizemos essa publicação em caderno.»

 

Das memórias de Fernando Távora, a confirmação da preconizada semelhança (ou influência) da arquitectura popular e da arquitectura moderna:

«E eu lembro-me que na véspera da visita do Salazar à SNBA fez-se uma projecção de slides para o Arantes e Oliveira e passou em determinada altura um conjunto de casas – no Sul – todas iguais, com aquelas chaminés alentejanas fortes, uma solução bastante fechada. E o ministro disse “que bonito, isso parece arquitectura moderna”. E eu que estava atrás – lembro-me perfeitamente disto – disse-lhe “mas, ó sr. ministro, o Inquérito vem exactamente confirmar a existência de grandes similitudes entre a arquitectura popular e a arquitectura moderna”. E ele disse-me assim: “o sr. arquitecto pense isso, mas não diga isso amanhã ao Sr. Presidente do Conselho”.» Fernando Távora, 1996. in João Leal, “Arquitectos, engenheiro, antropólogos: estudos sobre arquitectura popular no século XX português”. Conferência José Marques da Silva 2008. Fundação Marques da Silva. P.39

 

Nuno Teotónio Pereira e Fernando Távora. Dois arquitectos conhecedores profundos do “nosso” território, da “nossa” arquitectura popular. Dois arquitectos que tão bem desenharam a arquitectura moderna em Portugal.

 

arquitectura popular

ARQUITECTURA POPULAR EM PORTUGAL. Edição do Sindicato Nacional dos Arquitectos.Lisboa. 1961. Primeira edição.

*Constituição das seis equipas de cada província:

Zona 1 – Minho
Fernando Távora, Rui Pimentel e António Menéres

Zona 2 – Trás-os-Montes
Octávio Lixa Filgueiras, arnaldo Araújo e Carlos Carvalho Dias

Zona 3 – Beiras
Francisco Keil do Amaral, José Huertas Lobo e João José Malato

Zona 4 – Estremadura
Nuno Teotónio Pereira, António Pinto Freitas e Francisco Silva Dias

Zona 5 – Alentejo
Frederico George, Azevedo Gomes e Alfredo da Mata Antunes

Zona 6 – Algarve
Artur Pires Martins, Celestino de Castro e Fernando Ferreira Torres